terça-feira, 19 de outubro de 2010

EXPLORE A SUA RESPIRAÇÃO

24/07/2010
EXPLORE A SUA RESPIRAÇÃO
PEDRO TORNAGHI


Se quisermos investigar as diferentes possibilidades da respiração e as implicações que as diversas maneiras de respirar podem ter em nossa psicologia e estado emocional, convém começar por suas qualidades físicas. Por exemplo, o ritmo respiratório é feito de dois movimentos básicos, inspirar e expirar. Se entendermos o que cada um desses movimentos produz nas camadas mais superficiais e nas mais profundas de nossa psique, teremos dado um passo importante para um relacionamento mais consciente e saudável com o ato de respirar.
O que cada um desses movimentos significa em essência? A inspiração nos energiza enquanto a expiração é um momento de relaxamento. A inspiração ativa o metabolismo, estimula nossa capacidade de trocar energia com o que está em volta, enquanto a expiração nos induz a um momento de entrega. A inspiração está para a força como a expiração para a sensibilidade.
Logo, com esses mínimos dados, já é possível começar uma exploração prática de sua relação com a respiração. Experimente, por exemplo, alongar o tempo de cada inspiração e diminuir o da expiração, o que acontece? Você ficará mais disposto e disponível para se lançar em atividades dinâmicas.
Certa vez, eu estava começando um curso de Criatividade e Meditação com um grupo de pessoas muito resistentes, elas eram em sua maioria da área tecnológica e trabalhavam em uma grande empresa de comunicação que havia me contratado na expectativa de que o workshop as deixasse menos estressadas e mais criativas. Em nosso primeiro encontro elas se apresentaram tão passivas e desenergizadas que estava difícil propor qualquer trabalho mais dinâmico. Fiz uma experiência com elas, coloquei a música Cajá de Caetano Veloso para tocar ? uma música em compasso 5/4, um ritmo que divide cada célula de tempo em 5 tempos ? e pedi a elas que inspirassem nos 4 primeiros tempos de cada compasso da música e expirassem no último. Depois de 5 minutos, elas pareciam cuspir energia pelos olhos, e se mostravam aptas e até desejosas de um trabalho ativo. Esse ritmo pode ser muito útil para quem passa por crises de falta de motivação, por ciclos viciosos ou por momentos de inércia ou acomodação.
O contrário também é verdade, tente, durante 5 a 10 minutos, soltar o ar o mais lentamente possível e depois, espere o corpo inspirar, por si só. Nessa nova maneira de respirar você controlará a saída do ar, mas não controlará a entrada. Isso provocará um leque de benefícios em você. Em primeiro lugar, por soltar o ar o mais lentamente possível, vai chegar a um momento em que seu corpo sentirá urgência de ar e, nesse momento, ele provocará como que um pequeno solavanco na inspiração, o que lhe possibilitará experimentar a restauração do reflexo natural do diafragma. O diafragma é o principal músculo envolvido na respiração e em uma sociedade como a nossa, voltada para o controle, a tensão e a ansiedade, ele se tornou um músculo tolhido de seu reflexo natural. Experimentar esse reflexo acontecendo novamente tem uma infinidade de implicações positivas e nos dá, de imediato, uma sensação de liberdade emocional e psicológica que, por si só, já justificaria o experimento. Mas não é apenas isso, esse ritmo lhe tornará uma pessoa mais afável, acolhedora e gentil, aumentará sua paciência, serenidade e capacidade de concentração. Ele o tornará uma pessoa mais disponível para a meditação e mais sensível para os acontecimentos subjetivos.
Uma das verdades envolvidas nos dois exercícios acima é que no primeiro você passou mais tempo inspirando, ou seja, na parte ativa da respiração, no segundo, passou mais tempo expirando, na parte passiva da respiração. Só isso já foi o suficiente para o primeiro o deixar mais disposto e o segundo mais calmo, receptivo e reflexivo.
Podemos ainda explorar os ritmos por outros ângulos. Em experiências em meus cursos, em exercícios de respiração acompanhados pela música de Mozart, Bach, Paisielo, Handel, Vivaldi, Britten entre outros, descobrimos muitas coisas nos anos em que estávamos criando a Terapia da Respiração. Uma das descobertas dignas de nota foi perceber que exercícios embalados por músicas de ritmos trinários deixavam a pessoa mais dinâmica, ágil, alegre, com sensação de potência, força e grandiosidade e exercícios com trilhas sonoras de ritmos quaternários, aumentavam no praticante a sensação de estabilidade, segurança, repouso e senso de realidade. Com o tempo passamos a usar exercícios em ritmos trinários para pessoas que se queixavam de ser excessivamente reflexivas mas pouco dinâmicas e exercícios de ritmos quaternários para pessoas que se mostravam muito sensíveis, mas com dificuldade de estruturar suas vidas. Os praticantes não precisavam saber o que era um ritmo trinário ou quaternário, precisavam apenas saber qual música acompanhar durante o exercício, dependendo do resultado desejado.
Mas, a exploração de ritmos com a respiração não se restringe a esses fundamentos, esse parece ser um universo infinito. O que pode acontecer se passamos a adicionar outros elementos à respiração? Por exemplo, os workshops de terapia da respiração sempre nos confirmaram que a respiração pela boca está para a emoção como a do nariz está para o pensamento. Isso quer dizer que a mesma respiração de que falamos acima, que traz espontaneidade ao diafragma, pode induzir à espontaneidade mental, se feita pelo nariz, ou emocional, se praticada pela boca.
Da mesma maneira, técnicas com ritmo quaternário, quando praticadas pelo nariz, induzem à estabilidade mental enquanto uma vez feitas pela boca, induzem à ordenação de conteúdos emocionais. Já técnicas de ritmo trinário, se utilizadas pelo nariz, trazem dinamismo mental, aumentam a capacidade de decisão, o reflexo de raciocínio e a eficiência da percepção e da memória. Se feitas pela boca, as mesmas técnicas, tiram a pessoa de estados de inércia emocional e a ajudam a limpar-se de antigas mágoas, ressentimentos e medos irracionais, estimulando o espírito de aventura e produzindo na pessoa um carisma envolvente.
A relação das técnicas de respiração com a boca e o nariz fica ainda mais rica quando nos lembramos que podemos inspirar pelo nariz e soltar o ar pela boca ou vice-versa. A inspiração pelo nariz e expiração pela boca é a mais calmante das possibilidades da respiração. É fácil de entender. O nariz é um tubo mais apertado que o canal da boca, logo, exige um pouco mais de pressão, de força muscular para o ar passar por aí. Já a respiração com o ar entrando pela boca e saindo pelo nariz pode criar uma sensação interna de compressão na pessoa. A primeira possibilidade costuma se agradável e a segunda pode causar desconforto na pessoa.
Mas ainda não precisamos parar por aí. Nesses mesmos workshops, descobrimos meio que por intuição, meio que por acaso, que os ritmos sincopados desenvolvem a criatividade. Ritmos sincopados são ritmos onde respiramos no contra-tempo da contagem dos compassos, no tempo mais fraco e menos óbvio. As respirações de ritmo sincopado costumam ser muito úteis para que as pessoas enxerguem pontos cegos em si.
Podemos ainda respirar continuamente ou com o ar entrecortado, podemos fazer todos esses ritmos acima mais acelerados ou mais calmos, colocando mais força ou suavidade em diferentes momentos da respiração, podemos criar sequências de ritmos respiratórios que combinem diferentes ritmos para chegar a uma estratégia definida para os mais diversos fins.
Quem se utiliza das sequências respiratórias da Terapia da Respiração pode se beneficiar de muitas formas objetivas ao aprender a atenuar a ansiedade, a insônia ou o desânimo, ao melhorar constantemente o desempenho pessoal e desenvolver talentos adormecidos mas, a mais essencial qualidade dos ritmos respiratórios é, sem dúvida, a oportunidade que se abre à nossa frente de estabelecermos e trilharmos uma estrada de investigação clara e direta de nosso universo interno.

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